Há muito tempo atrás Platão escreveu em sua obra A república o “Mito da caverna”, este
que tão bem define todas as formas de relação de nosso ego com o mundo
exterior, dessa forma não poderíamos discorrer sobre a evidente situação do
mundo fundado nas aparências sem utilizar do mito como fonte imediata de nossa
reflexão. “Mas o que seria a caverna? O mundo de aparência que vivemos. Que são
as sombras projetadas no fundo? As coisas que percebemos. Que são os grilhões e
as correntes? Nossos preconceitos e opiniões, nossa crença de que estamos
percebendo é a realidade. Quem é o prisioneiro que se liberta e sai da caverna?
O filósofo. O que é a luz do Sol? A luz da verdade. O que é o mundo iluminado
pelo sol da verdade? A realidade. Qual instrumento que liberta o prisioneiro
rebelde e com o qual ele deseja libertar os outros prisioneiros? A filosofia.”
(Marilena Chaui – 2012)
"O nosso meio está repleto de
farsas, a “verdade” que a séculos nos foi passada nunca nos traduziu a
realidade. Tomamos posse de uma cultura embasada em argumentos arquitetados
tendo com o único objetivo massagear nosso ego, de modo que costumes foram solidificados
como função geratriz de seres impensantes. Um exemplo prático do citado acima
está na ambição humana em busca de títulos. Mais valor se dar aquele que segue
convenções sociais, que se enquadra em padrões solidificados por meia dúzia de
pessoas elaborados segundo seu individual.
Há algum tempo, o perfil de
mulher ideal e desejável para algumas sociedades era de um corpo dotado de mais
porte, o que dava ideia de uma maior fertilidade. Note o quanto as coisas
mudaram, observe a construção de paradigmas elaborados por conjuntos que não
respeitam de nenhuma forma a liberdade individual. Falácias são nos repassadas
todos os dias, a nossa mídia é riquíssima em conteúdos enviesados, tudo é posto
de forma unidimensional. Felicidade? É possível definição
sem o ingrediente dinheiro? Sem estar conforme a maioria, nem se enquadrar a
algum perfil desejável? A verdade absoluta é definida arbitrariamente e todos
os outros argumentos são taxados como fajutos, pois o que é um argumento se não
possuir aclamação de uma ampla maioria?!
Título, status, mais do mesmo... O
superficial é tão importante quanto o essencial e não é preciso se preocupar
com aspectos qualitativos de alguém, afinal de que importa o caráter se a
valorização se dá unicamente pelo ter. Estamos imersos em um mar de ignorâncias
que nos faz agonizar todos os dias para dentro do total breu." (Thiago Henrique)
"Observamos o quanto o ser humano busca o que é mais
aparentemente agradável, e essa é a origem dos preconceitos, da visão de algo
pelo que se “ver” dentro de sua própria caverna e o que realmente “é” na
realidade. Por exemplo, quando alguém vai comprar um celular, geralmente busca
um celular com diversas funcionalidades e com novos aperfeiçoamentos
tecnológicos, traduzindo a aparência que a sociedade e a mídia refletem, enquanto
suas funções se distanciam da finalidade objetiva que o aparelho deveria ter.
Nessa concepção, a caverna não parte somente do ego, mas sim de mais pessoas
presas no mundo interior e das ideias infungíveis com a realidade, acarretando
problemas diversos para o meio social, tais como crises ambientais e nas
relações pessoais. Tudo que vemos é uma impressão imediata do que enxergamos, não
o “ser” do algo, o que poderá causar uma indeterminada crise quando outro
extrair distinta interpretação e nos expor esta. Por conseguinte, imaginemos se
ainda pensássemos que o Sol gira em torno da terra? Se todas as doenças
psicológicas fossem motivadas com possessão demoníacas ou pragas jogadas pelos
deuses? Se o tempo não pudesse ser medido? Que o mundo é quadrado? São todas essas
indagações que foram resolvidas em momentos de crises que se desenvolvia entre
o parecer e o ser. Portanto, não podemos julgar algo apenas pelo que parece, pois
sempre há uma expansão daquilo que ele realmente é, pois a única coisa que
sabemos de tudo é que de tudo pouco sabemos. Contudo, sabemos que não é tão simples,
haja vista que já estamos nessa conjuntura na qual o aparente é o que importa,
a fama é sinônimo de posto da verdade e o filósofo e amante eterno da sabedoria
é o louco para os habitantes da caverna conjunta que hoje a sociedade se
tornou, não é só a visão pejorativa, pois acreditamos que ainda há vulgo os loucos
persistindo em não se corromperem com o que os impõem, são esses que a História
nos revela como condenados a viverem questionando e serem destruídos pela
sociedade e futuramente serem lembrados como alguém importante, pois é mais fácil
prestigiar e relevar em morte do que em vida. Afinal o que houve com Sócrates e
Jesus?" (Yago Nascimento)