quarta-feira, 21 de junho de 2017

Redes Sociais: Degradação das Relações Sociais


“Temo um dia em que a tecnologia se sobreponha à humanidade, então o mundo terá uma geração de idiotas”. Assim iniciamos mais uma reflexão sobre mais uma fragilidade da vida, com essa frase atribuída ao físico Albert Einstein, que, embora nunca provada a sua autoria, sabemos da aproximação com seu ponto de vista sobre a tecnologia e globalização, porém trocaremos a palavra “idiotas” pela “alienados”.
O que é relacionamento? Levamos em consideração, em princípio, o aspecto geral do contato humano, há uma grande diferença entre conhecer alguém e relacionar-se com este alguém, o conhecimento está baseado somente na visão, vemos alguém todos os dias e isso não significa que temos um vínculo ou nos relacionamos, a aproximação é marcada por um conjunto de sentidos compartilhados tais como ouvir o outro, vê-lo, observar expressões faciais e ler atitudes e comportamentos, esta aproximação está totalmente vinculada ao relacionamento, que é ligar-se, travar conhecimentos e arrolar-se com alguém de algum modo, e não há como exercer todas essas características fugaz senão de forma real, não virtual, pois estaremos forçando algo que é basicamente natural, estaremos, de fato, criando uma virtualidade triste e frustrante.
Outro conceito importante é o de amizade, algo que iremos enfatizar neste ensaio. O que é amizade? Eis aqui mais um conceito polissêmico, porém, entre outros, sempre há pontos comuns, como por exemplo, uma relação que traduz grande afetividade, estima, benevolência e bondade. Sendo assim: será se você tem a quantidade de amigo que imagina ter? A importância de saber distinguir conhecidos de amigos está aqui, justamente, como já explica Freud, que a seletividade é necessária para ter uma vida sensível e melhor, pois o caráter se vincula a isso, não que ser conhecido ou colega de alguém seja algo inútil, mas sim pela necessidade de saber o que é importante ou não você revelar de sua vida e se privar do mal-estar das decepções e desilusões, isso porque as redes sociais são prejudiciais para o psicológico em vários sentidos, inclusive por demonstrar uma realidade social perfeita e feliz no que se diz respeito à vida dos outros, registrando momentos felizes que não expressam realmente a realidade transcorrida. Dessa forma, o que é importante e para quem é importante a sua vida e seus compartilhamentos? Para conhecidos, que geralmente só estão ali por curiosidade e para saber de sua vida e depois comentar ou julgar pejorativamente com outras pessoas? É realmente importante demonstrar ser o que não é (narcisismo da ostentação)? Se aquelas pessoas são amigos, não deveriam saber a realidade de sua personalidade e vida? Por que compartilhar imagens sem nenhum motivo com conhecidos, ou até mesmo desconhecidos, somente para massagear o ego através de pessoas e elogios padrões? Um momento isso será esquecido e novas busca de autoestima e afirmação da existência surge.
As redes sociais vieram implantar a alienação por uma ilusão onde não existe a solidão, de publicidade da intimidade e da triste vida de pessoas que veem “perfis” de outros e se questionam o porquê da vida ser injusta. Tudo começa com uma solicitação de amizade e já tão facilmente temos outro “amigo”. As praças estão menos povoadas, e quando povoadas estão iluminando o céu com telas acesas e cabeças vidradas para coisas sem nenhuma importância, para a ascensão de um narcisismo prejudicial e para a persistência do consumismo e da fragilidade das relações, o equilíbrio entre a realidade e a virtualidade não existe mais.
Seguidores, amigos e contatos, tudo isso passa a ser numérico e não significar mais nada, tornando pessoas apenas objetos: “segue de volta!”, “Amei” sem amar, “Hahahaha” triste, “Uau” sem ser impressionante, curti, mas não gostei, mas sou seu amigo e estou aqui para te dar mais números, ou sou seu amigo, mas não vou curtir, pois não quero existir aqui, só quero olhar sua vida, ou visualizar e não responder por falsas normas sociais, mas e se eu te vir pessoalmente e não falar contigo? Que existência insensível é essa que estamos construindo? Deveríamos mesmo era reagir a tudo com tristeza, todas as coisas sem sentido, porque é triste fazer algo sem sentido algum, é tornar a vida, em partes, banal e desprezível. O cristianismo expressa bem esta ideia, seu líder amava a todos, porém nem todos eram seus amigos, tal que ele tinha apenas doze seguidores e onze amigos, pois um deles o traiu, mesmo que hoje ele tenha em demasiado, mas isso é apenas um exemplo de que amizade é rara, é ouro e não areia, é impossível ter tantos amigos!
Zigmunt Bauman, sociólogo polonês, que é muito conhecido pela ideia de modernidade liquida, que ao se referir às relações diz que o pensamento das pessoas, diante do consumismo da contemporaneidade, transmite a ideia de que tudo é descartável, inclusive as próprias pessoas, que passam a serem objetos, por isso que para ele, na atualidade nós não nos relacionamos e sim nos CONECTAMOS, genialmente plausível esta análise, pois a conectividade torna o vínculo entre as pessoas mais frágeis e mais líquidos, com prazo de validade, por isso vemos muito esta ligação de pessoas com suas redes sociais serem tão inseparáveis, os status expressam o ânimo, as fotos de perfis e cada compartilhamento e publicação fica mais explicita o estado emocional de um indivíduo. Assista ao seguinte vídeo do sociólogo sobre amizade e redes sociais:

Portanto, é uma atitude filosófica imprescindível a formulação de indagações sobre seu circulo de vida, tais como quem realmente é tão importante para você que merece saber sobre sua personalidade e sua intimidade? Quem realmente é seu amigo? Pois as redes sociais é um ambiente totalmente ilusório e alienante, que te prega uma falsa realidade que te causará angustia, decepção e inconsciente baixa autoestima, mas o problema não é acessar as redes sociais, senão o fato de viver somente dela e trazer uma realidade a qual não vive para ela. É a ponderação de valores, atitude racional e filosófica, consciência ética e moral que te fará acordar desta ilusão, saber ser verdadeiro e seletivo, dando substancia ao que realmente merece a relevância. Para finalizar, assistas ao vídeo do Filósofo e Professor Mario Sergio Cortella sobre o tema:

2 comentários:

  1. Muito bom Yago. Essa temática me envolve de tal forma, que me faz refletir todos os dias, sobre a superficialidade das águas rasas que hoje conectam as pessoas que dizem/pensam estar se relacionando com outrem. Fica cada vez mais complicado, sobreviver na atualidade sem nenhuma sequela na alma e no pensamento. Tenho pena das gerações futuras, já que a nossa chegou neste triste estágio...

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    1. Eu também sinto pena dessa nova geração! Mas que tenhamos esperança que sempre surjam intelectuais ativos que contrariem esta ilusão, embora muito difícil de lidar.

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